segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Melhor amigo

Estou escrevendo essa carta imaginando sua reação ao lê-la, imagino se vai rir, ou chorar, se vai ficar feliz, ou revoltada, mas desculpa, se for ficar mal, não era minha intensão, apenas tinha uma coisa, quer dizer, umas coisas que eu tinha que te contar, mas não posso contar tudo, não por enquanto. Então, minha melhor amiga, eu queria perguntar, eu fui um bom amigo todos esses anos ao seu lado, não fui? Nunca deixei nenhum idiota tocar em ti, claro que não conseguia afugentar todos, as vezes eu tinha que te emprestar meu ombro pra derramar suas preciosas lágrimas por causa de um babaca. Também posso dizer sempre tentei ver as coisas do teu jeito, para entender tudo o que falava,  não como os outros que balançam a cabeça mas não estão nem ai para teus problemas, eu queria ajudar a resolve-los, para que pudesse te ver feliz, eu fazia tudo para te ver feliz, cancelava meus planos para seguir os teus, as vezes eu magoava outras pessoas sem  querer, só para te fazer feliz, você foi a coisa mais importante para mim. Mas tinha uma coisa que eu a escondia de ti, quer dizer, as vezes eu mostrava, mas parecia que estava cega, nunca percebeu. Nunca percebeu que eu a amava mais do que como amiga. Tudo bem, admito que era meio tímido, e só fazia coisas para ti secretamente. Infelizmente, agora a perdi, provavelmente, se fez como pedi, está lendo essa carta enquanto estou dentro do avião que vai me levar para uma vida nova longe de ti, não vou mentir, no início vai ser agonizante não estar ao teu lado, mas talvez assim seja melhor, você pode me substituir por um carinha novo, mas eu sei que não vou conseguir, não custa tentar né? Enfim, eu precisava te contar isso de alguma forma, e esse foi o único meio. Me desculpa. Eu te amo.

Desculpas.

   Era noite de sexta, estava em casa sem ter o que fazer liguei a televisão para ver se passava algo de bom. Infelizmente não havia nada, apenas o jornal. Não que o jornal seja ruim, mas não era bom para o momento. Eu só queria algo para me destrair, hoje havia sido um dia pesado, eu havia terminado com meu namorado, aquele cara que eu achava que seria para sempre... Eu só queria ter algo para pensar agora e esquecer daquela briga, eu não queria pensar nele, mas estava meio impossível, em casa só na sexta... não há muito o que se fazer. Nesse instante a cadela pulou no meu colo, com aquela cara mais fofa do mundo, eu sabia o que ela queria, queria passear. Subi, não demorei muito, arrumei meu cabelo, coloquei uma roupa melhor para sair na rua, porque enfim, seria estranho se eu saísse com top e  shortinho né? Peguei a coleira dela e sai.
   Andava calmamente com os olhos fixos na calçada, mas se tivesse uma pedrinha ali, era capaz de que eu tropessasse, olhava para frente, acenava para as pessoas que passavam na rua, mas minha mente estava em outro lugar, não sei onde direito, mas estava perdida em algum canto.
   Depois de um tempo resolvi voltar para casa, ainda bem que essa caminhada tinha esfriado minha mente, agora quando chegasse eu poderia dormir, ou ligar o computador para ver se tem alguém que preste online.
   Não havia virado a esquina, percebi que tinha alguém na porta da minha casa, não eram meus pais, eles só voltariam depois do aniversário da minha tia avó, que era na segunda, também não estava esperando ninguém, me aproximando mais pude ver quem era. Andava em círculos com um buquê de rosas na mão, e falava consigo, sussurrava, e depois gritava, parecia um maluco.
- O que está fazendo aqui?- Falei quando ainda de longe.
- O que? Você deveria estar lá dentro, para quando eu bater a porta..- Disse ele
- Mas não estou! O que está fazendo aqui?- Falei brava.
- Eu precisava falar contigo.
- Pode falar.
- Ah, não era para ser assim. Era para eu bater na porta e você abrir com aquela cara de quem está de saco cheio de não fazer nada, com aquela roupa toda amassada por estar horas jogadas no sofá, ai eu a surpreenderia citando um texto de Caio Fernando Abreu e te entregaria essas flores, ainda falaria mais coisas e no fim pediria desculpas por aquela briga boba, dizendo que não sei ficar sem você, que não consigo nem passar  um dia inteiro longe de ti, que no momento que você me deu as costas eu me senti tão sozinho. Ai te pediria para voltar, e diria que a amo.